domingo, 21 de março de 2010

ESPECÍFICAS - LEITURA COMPLEMENTAR



LEITURA COMPLEMENTAR
Negros querem mudar nomes de cidades sul-africanas
 
SUSANNA LOOF
AE/Associated Press
FONTE: http://www.tamandare.g12.br/Aulafrica/apartheid.htm

JOHANNESBURGO, África do Sul – O apartheid se foi, mas os mapas da África do Sul ainda estão repletos de homenagens aos homens brancos, saudados como heróis pelas leis que favoreciam uma minoria no país. Na nova África do Sul, há um movimento para mudar o mapa, aposentando o tributo geográfico a um passado racista e adotando ou recuperando nomes africanos que representem a herança e a história da população nativa do país.
A capital administrativa, Pretória, recebeu o nome em homenagem a Andries Pretorius, um líder dos bôeres, os sul-africanos de origem holandesa. Não se sabe exatamente porque Johannes legou seu nome a Johannesburgo, mas é certo que ele era branco. Durban recebeu o nome de um governador britânico, Benjamin D´Urban. O governo argumenta que os sul-africanos não podem viver em cidades chamadas pelos nomes de pessoas que foram responsáveis pela sua opressão racial.
“Mesmo em lugares cujos nomes aparentemente são de origem africana, o antigo regime branco mutilou a pronúncia”, afirma Langa Mathenjwa, o presidente do Conselho Geográfico de Nomes Sul-Africanos. Um exemplo é Umbogintwini, uma pequena cidade próxima a Durban. Trata-se de uma forma adulterada de dizer o nome próprio Ezimbokodweni, que significa lugar das pedras em idioma Zulu.
“Não é apenas um modo de colocar novos nomes, mas uma forma de recuperar nomes que foram abolidos pelas leis do apartheid”, diz Mathenjwa. “Nós temos nomes nativos para esses lugares”.

CIDADE DO OURO – O conselho, um corpo consultivo criado pelo Parlamento para avaliar o assunto, elaborou uma proposta que permitirá às áreas metropolitanas mudar seus nomes, recuperando as denominações africanas abolidas pelo apartheid ou ainda escolhendo novos nomes africanos. Pretória pode ser renomeada como Tshwane e a metropolitana Johannesburgo poderá tornar-se conhecida como Egoli, a palavra Zulu para cidade do ouro.
A idéia irrita alguns sul-africanos, que consideram a proposta um desperdício de tempo e dinheiro, e enfurece a muitos brancos conservadores e adeptos da velha ordem. “Não vemos razão para mudar os antigos nomes”, diz o general Constand Viljoen, líder da ala direita do Freedom Front, um pequeno partido que representa os cidadãos de idioma africâner, o mais falado no país.
“Não há meios de mudar a história. Se você tenta, o risco é seu. Mas ao mudar o nome dos locais, você está tentando destruir a história”. Viljoen afirma que os nomes africanos podem ser colocados em novos lugares, monumentos e ruas. Entretanto, James Selfe, do Partido Democrático, de oposição, integrado predominantemente por brancos, declara que não tem objeção a mudar os nomes de lugares que possuam associações negativas com as eras colonial e do apartheid.

MARKETING – “Os conselhos das cidades deveriam ter o direito de mudar seus nomes, se quiserem”, ele diz. Mas ele acrescenta que outras considerações devem ser levadas em conta, incluindo o fato de que muitas cidades têm investido grandes somas de dinheiro em marketing local, promovendo-se como destino turístico com os nomes atuais. Por esse motivo, cidades como Johannesburgo e Pretória deveriam manter seus nomes. Mas o nome das áreas metropolitanas - cidades e subúrbios - poderiam mudar. Em Cidade do Cabo, o conselho urbano decidiu há dois meses em manter o atual nome da área metropolitana.
Renomear regiões metropolitanas será apenas o próximo passo de um amplo esforço do Congresso Nacional Africano para atirar os nomes que evocam o apartheid à lata de lixo da história. O país removeu os vestígios da era do apartheid da nomenclatura de suas províncias, substituindo antigas denominações, em alguns casos, por nomes africanos.
A província ao redor de Johannesburgo e Pretória, o centro da economia do país, era chamado de Transvaal antes do final do apartheid em 1994. Agora é Gauteng, o que significa o local do ouro em Sotho. A região oriental da antiga Transvaal tornou-se Mpumalanga, denominação Ndebele para o lugar onde o sol nasce. Os conselhos municipais estão submetendo as propostas de mudança ao Conselho Geográfico de Nomes, para que eles verifiquem a soletração correta e certifiquem-se de que não haverá duplicidade antes de enviar a aprovação para as administrações locais.

DESAFIO – Michael Sutcliffe, presidente da comissão de demarcação responsável pela nova delimitação das áreas metropolitanas da África do Sul, declarou que as cidades não devem se apressar no processo de troca de nomes e deveriam procurar os mais significativos. Atingir esse objetivo vai ser um desafio para um país com 11 idiomas oficiais e uma história cheia de dolorosos conflitos. Até aqui, de qualquer forma, não há qualquer sinal de discórdia entre as tribos nacionais na escolha de nomes.
Geralmente, os nomes africanos encaminhados para o conselho pertencem ao idioma da tribo que possui relação com o local. Outros são nomes originais, anteriores à presença dos brancos, e alguns são ainda a forma como as pessoas se referem usualmente ao local, que acabaram substituindo os antigos nomes. Com o tempo, acreditam os membros do CNA parte da imagem da segregação vai desaparecer.

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